A ansiedade de desempenho é um tipo de ansiedade que sentimos quando temos que realizar uma tarefa que consideramos estar além das nossas capacidades. É por isso que às vezes também é chamada de ansiedade de antecipação.
Embora não seja uma regra, é comum que este tipo de ansiedade comece antes de uma situação, ou obrigação, que deve ser realizada diante de outras pessoas, e geralmente se manifesta bem antes da situação efetivamente acontecer. E em muitas ocasiões as pessoas que sofrem este tipo de ansiedade acabam evitando tais situações, o que pode gerar outros problemas como, por exemplo, em casos extremos a pessoa pode evitar a cerimônia do próprio casamento, evitar um compromisso importante, uma entrevista de emprego, terminar um projeto, procrastinar uma atividade, e por aí vai.
Uma das curiosidades da ansiedade de desempenho é que, em última análise, o que assusta não é necessariamente a tarefa a ser realizada, mas o fato de sofrer ansiedade quando é preciso realizar essa tarefa. O que por sua vez, gera ainda mais ansiedade. Nessas situações, existe a consciência de não ter nenhum sinal concreto de nervosismo, porém, o pensamento sobre o nervosismo em si é o que faz com que as coisas deem errado.
Esse excesso de pensamentos leva ao nervosismo real e, então, tudo dá errado devido a perda de concentração e, consequentemente, aparecem sinais como a sudorese, a voz trêmula, a pele ruborizada, a hiperventilação, e o temor de que as coisas pudessem dar errado acaba se concretizando. Portanto, o que existe é um sofrimento prévio por uma sensação de que as coisas possam dar errado, um sentimento de premunição que se reforça, criando uma crença sobre o cumprimento de um presságio criado por uma sensação ruim. Do tipo: “Eu sabia que daria errado”, “Eu estava sentindo que algo não daria certo”, “Viu só; eu falei!”
Deste modo, a ansiedade de antecipação é o medo de que o nosso desempenho não funcione antes de uma situação que julgamos importante, gerando, assim, medos e estresses vários que desencadeiam uma série de pensamentos e ações que podem, inclusive, nos bloquear ou causar disfunções fisiológicas. Uma das características desencadeada pela ansiedade de antecipação é a preocupação excessiva que, em alguns casos, gera distração e ou agitação. Na vida adulta, a ansiedade do desempenho pode afetar também a vida sexual.
A preocupação excessiva de não ser capaz de desempenhar adequadamente durante as relações sexuais pode, por exemplo, gerar condições que prejudicam a vida sexual de uma pessoa mesmo sem que esta tenha uma condição física aparente para atrapalhar o seu desempenho sexual.
A primeira coisa a se notar nesses casos é se a preocupação e ou a agitação causada pela ansiedade de desempenho está gerando distração durante as interações sexuais. Muitas vezes, quando as pessoas preocupadas fazem sexo, elas não prestam atenção suficiente aos pensamentos e respostas eróticas que normalmente acompanham as relações sexuais mais prazerosas. Assim, em vez de pensar de modo erógeno, a pessoa antecipa mentalmente eventos, e entra em um turbilhão de pensamentos sobre outras coisas, ou sobre a própria atuação durante o ato sexual, gerando com isso mais ansiedade de desempenho sexual.
Este tipo específico de ansiedade de desempenho promove a falha no desempenho sexual, provoca o medo de julgamento, e em alguns casos, como recurso de compensação, a perda do auto respeito durante o sexo. Então como a preocupação excessiva ou a agitação pode afetar nosso desempenho sexual?
Além da falta do prazer, de não atingir o clímax no orgasmo, algumas características psicofisiológicas podem ser a falta de lubrificação, a taquicardia, a disfunção erétil, a ejaculação precoce, a dor durante a penetração, a hipersensibilidade ao toque como ter cócegas que não se tinham antes, a irritação, entre outras coisas. Portanto, em casos de ansiedade de prestação sexual o problema não está nas partes íntimas, não é um mal funcionamento erógeno, mas sim, um conjunto de pensamentos irracionais criados pela ansiedade de desempenho sexual que, por sua vez, leva à frustração com o sexo.
Os pensamentos que causam distração durante o ato sexual não devem ocupar o lugar dos pensamentos eróticos. É possível ter um controle considerável sobre a experiência sexual se a concentração desses pensamentos estiver na interação com a outra pessoa. Aqui, a imaginação é toda a realidade que importa.
Antes de mais nada, para evitar frustrações sexuais causadas pela ansiedade de prestação sexual, o mais importante é entender que o sexo vai muito além de um simples orgasmo. Parar de exagerar o quanto é ruim não ter um orgasmo, e apreciar qualquer prazer proporcionado durante o sexo é já um bom começo. Lembre-se também que o orgasmo do outro não depende unicamente de você. Deixe de se preocupar com o que a outra pessoa está pensando sobre você e, em vez disso, concentre-se no que você pode controlar: seu mundo subjetivo de pensamentos eróticos, fantasias, sensações e sentimentos. Portanto, respeite sua dignidade e seu valor sem tentar compensar eventuais falhas durante o sexo. E sobretudo, pare de qualificar sua experiência sexual, se boa ou se ruim, especialmente enquanto ela ainda estiver acontecendo.
Mas como superar a ansiedade de desempenho que nos bloqueia?
Para superar a ansiedade de desempenho é preciso, acima de tudo, amadurecer nossos pensamentos sobre a real importância de um determinado fenômeno nas nossas vidas, e tomar consciência dos mecanismos mentais que nos auto sabotam. O segundo passo é o de ressignificar a importância que damos para certas situações e eventos vividos. Perceber o juízo de valor que fazemos sobre algumas coisas, e entender o valor real que elas têm no aqui, no agora, e no futuro, sem superdimensionar a importância das coisas. Por fim, saber distinguir o que é realmente essencial na vida daquilo que é supérfluo, diferenciando aquilo que oferecemos daquilo que queremos da vida, é parte central desta fase.
Na psicologia - e não só - a maior importância de todas é a vida. Estar em vida, aprender, errar, refletir sobre o nosso meio, ser mais ou menos uma pessoa saudável, experienciar emoções como amor, alegria, felicidade e paz; sem necessariamente negar outros sentimentos como tristeza, desilusão, ou dor da perda é também parte do que de fato interessa na vida. O distanciamento deste processo natural de Ser e existir pode acarretar uma disfuncionalidade sobre o valor que damos à vida, e o valor que damos às coisas que compõem a vida.
Se fizermos um esforço para ver os fenômenos dessa maneira, não mais experimentaremos a pressão do excesso de estima que damos a determinadas coisas, e desfrutaremos ainda mais das nossas fases de desenvolvimento enquanto seres humanos. Isso significa que, mesmo sendo demitido, terminando um relacionamento, ou falhando em algo, ainda assim somos capazes de superar as adversidades e sermos pessoas felizes.
A ansiedade de desempenho não é necessariamente uma coisa ruim. Afinal, é uma reação natural do corpo, que nos alerta para o fato de que estamos prestes a fazer algo que consideramos complicado, e que não estamos acostumados a fazer frequentemente. Portanto, aceitar essa ansiedade como parte das nossas funções psicofisiológicas, como algo necessário e natural, é o caminho para começarmos a trabalhar os problemas relacionados ao seu desajuste.
Assim, a primeira coisa a se fazer é aceitar a ansiedade e parar de lutar contra os seus sintomas. O melhor caminho é aceitar que você está diante de algo que tem sido mais forte que você, e que não é fácil de lidar sozinho. Perceba o que o seu corpo está dizendo, e como ele está reagindo a certas situações sem dar atenção exagerada aos processos naturais da ansiedade.
A segunda ação é a de não se concentrar no nervosismo. A ansiedade pode gerar nervosismo no momento da realização de uma atividade, ou até mesmo dias e horas antes deste momento. O nervosismo é parte natural da ansiedade, então não preste muita atenção ao nervosismo e nem se preocupe demais com isso.
Outro ponto fundamental é o de não forçar a calma. Muitas pessoas ficam obcecadas em querer se acalmar ao invés de focar em fazer bem aquilo que têm que ser feito. Repensar a calma pode gerar mais nervosismo e, consequentemente, aumentar as chances de que tudo dê errado, levando de novo à auto realização de ter um presságio ruim. Sabotando mais uma vez o próprio desempenho.
Lidar com o nervosismo é um dos pontos mais importantes. É natural cometermos erros quando estamos nervosos, mas o modo como reagimos a esses erros é o que faz toda a diferença. Você pode ignorar o erro e continuar fazendo as coisas como se nada tivesse acontecido, você pode superdimensionar a situação e fazer um drama, ou você pode agir de maneira saudável e aceitar que está em uma situação de nervosismo, reconhecer o erro, e pedir desculpas para você e ou aos outros pelo incidente ocorrido.
Outra estratégia interessante é a de praticar alguma técnica de relaxamento que ajude você a manter a calma para enfrentar situações de estresse. E trabalhar a autoconfiança. Não há nada melhor para combater este tipo de ansiedade do que a autoconfiança.
Se você perceber que nada disso está resolvendo, procure a ajuda de um psicólogo para entender os bloqueios e sentimentos de procrastinação que o excesso de pensamentos e a agitação causados pela ansiedade de desempenho estão provocando na sua vida. Na terapia podemos fazer um trabalho de reflexão sobre o nosso desempenho, e como lidamos com alguns aspectos da nossa personalidade. O desenvolvimento da Aptidão Emocional nos ajuda, entre outras coisas, a fazer uma revisão profunda do nosso sistema de valores.
No atendimento psicológico preparamos também o desenvolvimento da autoconfiança, e a autoconscientização de algumas emoções para desestimular o desencadeamento de comportamentos e pensamentos que envolvem o estado de ansiedade do desempenho como, por exemplo, o próprio nervosismo.
É importante entender que em alguns casos de ansiedade de antecipação o tratamento psicoterápico deve ser considerado antes mesmo de se iniciar qualquer tratamento medicamentoso. Em casos como a disfunção erétil, por exemplo, quando esta não é de origem fisiológica, o tratamento psicológico da ansiedade de desempenho sexual pode evitar o uso condicionado de pílulas que promovem a ereção. Ou seja, o uso da pílula passa a ser condição para se ter uma ereção, criando, portanto, dependência psicológica.
Já em casos mais complexos a psicoterapia pode auxiliar na prevenção do uso prematuro de remédios para a ansiedade que, embora ajudem a reduzir a ansiedade, estas drogras podem, em situações graves, ter como efeito colateral o desenvolvimento de pensamentos suicidas e ou a incapacidade de realizar atividades do dia a dia. Por isso, é muito importante que o tratamento medicamentoso da ansiedade seja acompanhado de um tratamento psicológico. O ideal é que a pessoa que esteja sofrendo de ansiedade inicie seu tratamento com um psicólogo antes mesmo de começar a ingerir qualquer medicamento de tarja preta.
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